17/07/2011

Período de transição

Passagem por república serve como Até completar 21 anos, jovens saídos de abrigos moram sem pagar aluguel e recebem cesta básica
A regra é clara: nem bebidas nem mulheres nem sujeira. Para viver na república que fica na Vila Leopoldina, é preciso andar na linha.
No sobrado de dois quartos, sala, cozinha e dois banheiros moram cinco meninos. Eles não pagam aluguel e recebem cesta básica.
Todo o resto fica por conta deles e a divisão respeita a habilidade de cada um. O melhor café da casa é feito por Antônio Marcos, de 20 anos, que, após dois anos ali, se prepara para sair. Ele sai um ano antes da idade-limite para morar na república: 21 anos.
"Ainda no abrigo, eu fiz um curso de zeladoria do patrimônio histórico. Quando saí, consegui emprego na área, guardei um dinheiro e agora, pela primeira vez na vida, vou andar sozinho."
Antônio foi abrigado aos 13 anos, junto com oito irmãos. Chegou defasado à escola, ainda no 3.º ano do ensino fundamental. Frequentou o supletivo e hoje cursa o último ano do ensino médio em um colégio particular, onde fez uma prova de aptidão e conseguiu bolsa de 100%.
"Essa autonomia é o que a gente quer, mas nem todos conseguem", diz Mateus Kalinovski, o gestor que acompanha os garotos. Ele conta que, vez ou outra, há quem saia dali sem nenhuma perspectiva.
No ano passado, ao completar 21 anos, depois de perder o emprego e parar de estudar, um jovem foi parar em um albergue público. "Nesse caso, não há o que se possa fazer. Ele chegou institucionalizado e não conseguiu desenvolver sua autonomia. Há outros que a gente nem sabe se estão vivos ou mortos."
Alerta. As histórias de fracasso deixam os meninos em alerta. Com dois anos de prazo, Tiago Medeiros, de 19, quer sair dali empregado no que gosta.
"Quando deixei o abrigo foi um horror, nem dormia direito, com medo da vida aqui fora. Agora, meu receio é não conseguir um trabalho como desenhista." Por enquanto, seus mangás decoram a parede da sala da república da Vila Leopoldina.
Fonte: matéria de Ocimara Balmant, publicada no Estadão, de 17/07/11.

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